O ‘bandeirante destemido’ Durval Marcondes, a Psicanálise e a modernização conservadora no Brasil

Mandelbaum, B. and Frosh, Stephen (2020) O ‘bandeirante destemido’ Durval Marcondes, a Psicanálise e a modernização conservadora no Brasil. Revista USP (126), pp. 85-98. ISSN 0103-9989.

Abstract

Apresentamos aqui a trajetória acadêmica e profissional do psiquiatra, psicanalista, poeta e professor universitário Durval Marcondes, que atravessa o período dos anos 20 aos anos 80 do século XX. Durval foi pioneiro – um “bandeirante destemido”, imagem com a qual se identificava – na implantação da Psicanálise em São Paulo, tanto em sua vertente clínica privada quanto no Serviço de Higiene Mental Escolar, do qual foi diretor, bem como na criação do primeiro curso de especialização em Psicologia Clínica, na Universidade de São Paulo. Procuramos evidenciar, no entanto, que sua trajetória em todos estes campos foi marcada pelo conservadorismo em relação 1) à própria Psicanálise, ao procurar reproduzir em terras brasileiras o modelo hegemônico preconizado pela Associação Psicanalítica Internacional e colocar suas teorias e técnicas acriticamente a serviço do ajustamento social; 2) aos costumes sociais vigentes, divulgando na mídia impressa conhecimentos psicanalíticos sobre infância, condição feminina e família que serviam à reprodução do status quo tradicional; 3) à política, com atitudes ostensivamente reacionárias enquanto professor de Psicologia Clínica na Universidade de São Paulo. Em todos estes sentidos, seus modos de importação e incorporação da Psicanálise nas primeiras décadas do século XX reproduzem padrões que estudiosos da cultura brasileira nomearam de modernização conservadora, um amplo processo de rápidas transformações culturais que deixaram intocadas estruturas sociais, econômicas e políticas tradicionais no país. We present here the academic and professional trajectory of the psychiatrist, psychoanalyst, poet and university professor Durval Marcondes, which runs through the period of the 20s to the 80s of the twentieth century. Durval pioneered - a ‘fearless pioneer’ image with which to identify - in psychoanalysis the implementation in São Paulo, both in his private practice and in the School Mental Health Service, of which he was director, and the creation of the first specialization course in Clinical Psychology, University of São Paulo. We seek to show, however, that its trajectory in all these fields was marked by conservatism regarding 1) the psychoanalysis itself when looking to play in Brazilian territory the hegemonic model recommended by the International Psychoanalytic Association and put their theories and uncritical techniques in the service of social; 2) the prevailing social customs, publishing psychoanalytic knowledge about childhood, womanhood and family serving the reproduction of the traditional status quo; 3) the policy, in explicitly reactionary attitudes as Professor of Clinical Psychology at the University of São Paulo. In all these ways, his modes of import and incorporation of psychoanalysis in the early decades of the twentieth century reproduce patterns that scholars of Brazilian culture named conservative modernization, a broad process of rapid cultural changes that have left untouched social, economic and political traditions in the country .

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